O mundo corporativo adora previsibilidade. Processos bem definidos, metas claras e funcionários que seguem as regras. Mas algo tem saído desse script. Depois do quiet quitting (a demissão silenciosa), um novo fenômeno está ganhando força: a demissão por vingança.
O nome pode soar dramático, mas a lógica por trás desse comportamento é pura neurociência. Profissionais exaustos estão abandonando empresas sem aviso prévio, sem receio de queimar pontes, e sem se preocupar com a “imagem no mercado”: eis a demissão por vingança. O que mudou? O cérebro entendeu que não vale mais a pena lutar por um sistema que o esgota sem retorno.
O que leva um profissional ao ponto de ruptura?
A resposta está no funcionamento do nosso sistema nervoso. O cérebro opera com base em um princípio simples: ele busca recompensa e evita dor. Quando um ambiente de trabalho oferece mais sofrimento do que reconhecimento, a equação se torna insustentável.
A neurociência mostra que o burnout não é uma questão de fraqueza, mas sim um colapso biológico. O córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões, entra em sobrecarga. O sistema límbico, que regula emoções, começa a enviar sinais de alerta. Quando essa sobrecarga se mantém, o cérebro aciona um mecanismo de autopreservação, levando à desconexão emocional e, por fim, à decisão de sair.
O ciclo do esgotamento mental e a demissão por vingança
- Exaustão emocional: O sistema nervoso fica em estado de alerta constante, drenando energia vital.
- Despersonalização: A conexão com o trabalho e os colegas se perde.
- Sensação de inutilidade: O esforço deixa de fazer sentido.
O resultado? Profissionais não apenas pedem demissão — eles rompem com o modelo de submissão corporativa, saindo de cena sem culpa.
O erro das empresas: achar que tudo se resolve com café grátis
Muitas organizações insistem em tratar sintomas, não causas. Happy hours, puffs coloridos no escritório e frases motivacionais nas paredes não enganam um cérebro sobrecarregado. A ciência do comportamento humano já provou que pequenos incentivos não compensam um ambiente tóxico.
Se a cultura organizacional não valoriza o profissional, por que ele valorizaria a empresa?
A pesquisa da Gartner confirma essa tendência: companhias que impuseram o retorno ao escritório sem flexibilidade viram um aumento de 9% na rotatividade voluntária. Ou seja, os líderes continuam ignorando um fato básico da neurociência: o controle excessivo gera resistência e fuga.
O caminho para evitar o êxodo silencioso
Se as empresas não querem se tornar um cemitério de talentos, precisam ir além do discurso. Algumas mudanças urgentes incluem:
- Políticas reais de bem-estar: Apoio psicológico, redução da carga de trabalho e equilíbrio genuíno entre vida pessoal e profissional.
- Flexibilidade de verdade: Se o foco é “resultado”, então controle de horário excessivo não faz sentido.
- Ambientes de segurança psicológica: O medo de represália inibe a inovação. Pessoas só se comprometem quando se sentem ouvidas e valorizadas.
O cérebro humano não foi feito para sobreviver em guerra constante. Se o ambiente de trabalho se torna um campo de batalha, a deserção é apenas uma questão de tempo.
Por Marina Marzotto Mezzetti, especialista em neurociência e reconhecida pela implementação pioneira do Índice de Felicidade Interna Bruta (FIB) no Brasil, tem sido uma defensora incansável de práticas de trabalho mais equilibradas e eficazes. Traz também ensinamentos práticos, capacitando indivíduos a alcançarem uma vida mais equilibrada e bem-sucedida por meio dos princípios da neurociência.
🎧 Ouça o Podcast RH Pra Você Cast, Episódio 171
"Não é Só uma Demissão: O Peso do Desemprego na Autoestima e na Saúde Mental"
Perder o emprego não é fácil para ninguém. Para algumas pessoas, o impacto emocional pode ser bem maior do que para outras. Seja pelas necessidades financeiras ou por questão de autoestima, um desligamento pode causar efeitos extremamente negativos à saúde mental. Além disso, esses efeitos podem ser gatilhos para transtornos ou doenças, como ansiedade, ataques de pânico e depressão.
Como as Organizações Podem Ajudar?
Diante desse cenário, é possível que as organizações contribuam de algum modo para que o impacto seja menos sentido? Afinal, o que fazer para que uma demissão não afete tão drasticamente o nosso emocional? Assim, quem fala sobre isso é a psicóloga especialista em Gente & Gestão, Cláudia Danienne, CHRO da Degoothi Consulting.
Conclusão
Ouça o podcast e descubra estratégias para lidar com a demissão e seus efeitos na saúde mental. Além disso, entenda o papel das organizações nesse processo crucial.
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