Nunca se falou tanto sobre o futuro do trabalho. Como professores e pesquisadores de administração, temos debatido as mudanças recentes no mercado por conta da introdução de novas tecnologias, especialmente a inteligência artificial. Independente da análise que se faça ou da conclusão a que se chegue, concordamos que as coisas estão mudando muito, a um ritmo acelerado. Apesar das muitas incertezas, é certo que essas mudanças impactarão o trabalho de uma forma geral, inclusive o trabalho do executivo.
Ora, se o trabalho executivo muda, mudam os requisitos e a forma de avaliar o que é um bom trabalho. Portanto, a educação executiva também precisa mudar. Dessa forma, para pensar sobre isso, precisamos compreender a geração de valor de um MBA no passado, presente e futuro.
Desafios das escolas de negócio na era da IA para o novo trabalho
Historicamente, as escolas de negócio surgiram para treinar as pessoas em ferramentas técnicas essenciais para desempenhar o trabalho executivo. Isso durou algumas décadas. Depois veio a fase da gestão, onde percebemos que era importante combinar essas ferramentas em desafios mais elaborados.
A evolução da gestão trouxe mais recentemente o avanço do ensino de competências, as chamadas soft skills. Ademais, no início ainda com uma característica mais funcional: começou-se por ensinar técnicas de apresentação, de negociação, de feedback.
Entretanto, mesmo com essa gradual evolução do ensino, as escolas de negócio eram (e são até hoje) criticadas pelos executivos de RH por entregarem ao mercado pessoas com importantes gaps de competências, como por exemplo a ausência de uma visão holística e a incapacidade de lidar com a incerteza.
Chegamos nos dias de hoje e os desafios aumentaram diante da incerteza enorme que o desenvolvimento e disseminação da inteligência artificial trouxeram para o trabalho. Diferente das ondas tecnológicas anteriores, que tornavam obsoletos os trabalhos mais braçais e automatizados, a IA pode tornar praticamente qualquer trabalho obsoleto, mesmo os mais valorizados intelectualmente.
Entretanto, a IA trabalhará e decidirá tecnicamente, sem refletir sobre toda a complexidade do mundo, provavelmente buscando apenas maximizar uma determinada função-objetivo, isto é, atingir um certo resultado.
A liderança do futuro: soft skills e a sinergia humano-máquina
Nesse contexto, o que fica para nós, o que devemos ensinar para um executivo?
Acreditamos que nesse futuro provável os soft skills ganharão ainda mais preponderância, dado que os problemas técnicos estão, em teoria, resolvidos. O ser humano seguirá tendo valor por ser humano. Por ser capaz de pensar emocionalmente, por ter empatia, por realmente se conectar com o outro. Este parece ser um caminho para a liderança se posicionar num mundo onde as máquinas realizam grande parte do trabalho disponível.
Tais elementos são importantes para refletir sobre que parte do trabalho queremos manter mesmo que a gente possa delegar tais tarefas, eventualmente com vantagens técnicas, para um artefato computacional.
Entre outras atribuições, um líder deverá pensar no que quer maximizar, no que é efetivo para a organização e para as pessoas ao seu redor. Sua liderança cada vez mais precisará orquestrar uma rede de atores humanos e não-humanos, exercitando, por assim dizer, fatores que normalmente não são vistos como objeto de um MBA.
É possível que em poucos anos o treinamento executivo mais necessário seja relacionado a coisas como autoconhecimento, ambição, propósito e emoções.
Pense junto com a gente. Se a IA seguir se desenvolvendo em uma taxa próxima a de hoje, como o cenário poderá ser outro?
Liderança Adaptativa: valor humano no trabalho automatizado
O trabalho não é apenas algo que fazemos das 9 às 5 para pagar as contas. Inegavelmente, é algo que também dá (ou deveria dar) sentido às nossas vidas. Logo, a terceirização completa do trabalho para a IA significa a interrupção de um dos fluxos de sentido para a vida humana. Só o exercício da liderança será capaz de modular isso em uma organização.
Por conta de tudo isso, uma escola de negócios precisa passar a formar executivos que saibam exercer uma liderança adaptativa. Isso significa explorar conceitos que auxiliam os alunos a refletirem sobre quem são, quem querem ser, como lidam com o que está em volta, como gerenciam suas emoções e dos que os cercam.
Executivos: recuperando humanidade em um mundo de IA
A base ferramental, gerencial e teórica faz a diferença na formação de um executivo. No entanto, é urgente adicionar camadas de complexidade, desafios e autoconhecimento.
O diferencial competitivo de um executivo em relação a um agente construído com Inteligência Artificial já não está e estará menos ainda na primeira palavra da expressão, “Inteligência”.
A chave para os executivos está em recuperar a humanidade e os elementos subjetivos que por muitos anos foram tratados como de menor importância. A debilidade do agente computacional está no “Artificial”. É preciso pensar no que só um líder humano e adaptativo é capaz de entregar.
Por Paula Chimenti, Professora e coordenadora do Centro de Estudos em Estratégia e Inovação do COPPEAD/UFRJ e
André Luís da Fonseca, professor e coordenador do Centro de Estudos em Estratégia e Inovação, ambos do COPPEAD/UFRJ.
🎧Ouça o Episódio 181 do Podcast RH Pra Você Cast:
A Saúde dos Trabalhadores Está em Risco?”
A abordagem das empresas em relação à saúde dos colaboradores traz otimismo. Com efeito, desde a pandemia, o bem-estar e a qualidade de vida passaram a ser assuntos obrigatórios nas organizações para que elas se mantenham competitivas.
A Prática é Tão Positiva Quanto o Debate?
Contudo, será que a prática é tão positiva quanto o debate? Assim, uma pesquisa recém-realizada pela Alice indicou que ainda existem muitos gaps a serem corrigidos.
Pesquisa da Alice Revela Gaps na Saúde dos Trabalhadores
Em suma, para falar mais sobre o estudo e também a respeito do cenário da saúde do trabalhador para 2024, batemos um papo com Sarita Vollnhofer, CHRO da Alice. Confira abaixo:
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