Se a glorificação do excesso de trabalho e da produtividade extrema se mantém presente em nossa cultura, poucos exemplos ilustram tão bem suas consequências quanto a história de Willy Loman, protagonista da peça "A Morte de um Caixeiro Viajante", de Arthur Miller.

Willy é um homem que passou a vida acreditando que o sucesso profissional viria da dedicação absoluta ao trabalho. Em outras palavras, ele internalizou a ideia de que carisma, esforço e persistência garantiriam reconhecimento e estabilidade.

No entanto, à medida que envelhece, ele percebe que sua lealdade incondicional ao trabalho não o levou à realização esperada. Em vez disso, encontra-se exausto, endividado e incapaz de aceitar que o mundo mudou—e que o trabalho não é mais garantia de sucesso.

Sua obsessão pelo trabalho não apenas destrói sua saúde mental, mas também corrói suas relações familiares. Igualmente, seu filho Biff, que cresceu ouvindo que bastava "acreditar" para vencer, se depara com a dura realidade de que o esforço por si só não basta. Em um dos momentos mais marcantes da peça, Biff tenta fazer o pai enxergar a verdade:

"O que você está tentando se tornar, o que você está querendo tanto ser, não existe!"

A fala de Biff poderia ser dita a muitas pessoas hoje, que ainda acreditam que basta trabalhar sem parar para alcançar reconhecimento e estabilidade. A história de Willy Loman revela que um sistema que exige sacrifício ininterrupto pode, no final, retribuir apenas com frustração.

Quando o excesso de trabalho se torna identidade

O problema central de Willy não é apenas a exaustão física—mas a confusão entre identidade e produtividade. Ele não se vê como um indivíduo além do seu trabalho. Quando percebe que sua carreira não lhe trouxe o prestígio esperado, sua autoestima desmorona.

Em um dos momentos mais angustiantes da peça, ele lamenta:

"Depois de tantos anos, percebe-se que foi enganado, e que não há nada para se agarrar."

Esse sentimento de vazio é uma realidade para muitos profissionais que dedicaram sua vida ao trabalho e, ao final, percebem que não construíram nada além dele. A crença de que basta se esforçar para ser recompensado pode ser cruelmente frustrada por um mundo onde a produtividade sem limites é explorada, mas raramente reconhecida.

O que podemos aprender com Willy Loman?

A tragédia de Willy Loman está no fato de que ele nunca conseguiu redefinir o que significava vencer. Ele passou a vida acreditando que sucesso era sinônimo de esforço extremo e não soube enxergar outras formas de valor.

Hoje, seguimos vendo profissionais lutando contra os mesmos dilemas. Muitos vivem presos à necessidade de provar seu valor por meio da produtividade incessante, acreditando que desacelerar é um sinal de fraqueza.

Precisamos nos permitir pausar, redefinir prioridades e lembrar que o verdadeiro sucesso não está no número de horas trabalhadas, mas no equilíbrio e no propósito que encontramos em nossas vidas.

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Por Hercules Garcia, empresário, especialista em Gestão de frotas e suprimentos, Administração de Empresas, Administração de Fundos de Investimento e Consultor Financeiro.

 

 



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