Nos últimos anos, um dos maiores debates em torno do futuro do mercado de trabalho tem sido o impacto da automação via Inteligência Artificial. A IA no mercado de trabalho promete transformar profundamente diversas indústrias. O avanço das tecnologias está acelerando essa transição, gerando expectativas positivas, resultados e apreensão.
Há quem veja essa mudança como uma ameaça aos empregos. É importante entender que, se bem administrado, esse sentimento pode se reverter em oportunidade para o crescimento profissional e melhoria da qualidade de vida.
Otimismo e adaptação à IA no mercado de trabalho
Um levantamento feito pela Deloitte em 2024 mostrou que profissionais em início de carreira estão otimistas sobre o potencial da IA. Além disso, acreditam que a tecnologia pode impactar positivamente suas oportunidades profissionais. Eles reconhecem a necessidade de adquirir novas habilidades para se adaptar à transformação tecnológica.
O estudo ouviu 1.874 trabalhadores dos Estados Unidos, Canadá, Índia e Austrália. À medida que uma nova geração entra na força de trabalho, seu relacionamento com a tecnologia é diferente das gerações anteriores.
Por exemplo, oito em cada dez profissionais (83%) em início de carreira já chegam ao mercado familiarizados com as ferramentas de IA. Em contrapartida, 68% dos trabalhadores efetivos sabem lidar com a novidade.
A pesquisa afirma que 79% dos profissionais em início de carreira estão animados com as oportunidades que a IA pode trazer para seu trabalho (em comparação com 66% dos trabalhadores efetivos).
Uma porcentagem maior dos iniciantes acredita que habilidades de IA são importantes em suas carreiras. Por conseguinte, mesmo que trabalhem em um campo não-tecnológico, 78% dos iniciantes compartilham essa opinião contra 62% dos trabalhadores efetivos.
O estudo também identificou que 75% dos trabalhadores em início de carreira acreditam que a IA criará oportunidades de emprego em seu campo (em comparação com 58% dos trabalhadores efetivos), e 77% acreditam que a IA os ajudará a progredir em suas carreiras (contra 56% dos trabalhadores efetivos).
Adaptação dos trabalhadores à automação
Com a implementação de sistemas automatizados, algumas funções repetitivas e operacionais, que antes demandavam mão de obra humana, estão sendo substituídas por máquinas. Esse movimento é visível em setores como indústria, agricultura, serviços financeiros e até mesmo nas profissões que exigem decisões mais complexas, como advocacia e medicina.
A questão que surge, então, é:
- como os trabalhadores podem se adaptar a esse novo cenário?
- como se preparar para um mercado de trabalho em que a automação vai desempenhar um papel cada vez mais crucial?
Em primeiro lugar, é essencial entender que a automação não significa o fim do trabalho humano, mas uma mudança no tipo de trabalho que será demandado. As tarefas manuais e repetitivas são, de fato, as mais propensas a serem automatizadas. No entanto, as funções que exigem criatividade, empatia e habilidades interpessoais continuam sendo áreas em que os seres humanos se destacam.
Isso inclui setores como os de educação, cuidados de saúde, marketing e até mesmo áreas de gestão, onde a análise crítica e a tomada de decisões estratégicas são indispensáveis.
Em vez de temer a automação, a melhor abordagem é aprender a se adaptar e, de fato, aproveitar as oportunidades que ela traz. Educação e aprendizado contínuo são ferramentas poderosas nesse processo. Profissionais que se dedicam a desenvolver habilidades digitais, como programação, análise de dados, e até mesmo gestão de novas tecnologias, estarão mais bem posicionados para prosperar.
Desenvolvimento de competências sociais e automação inclusiva
Além disso, investir no desenvolvimento de competências sociais, como liderança, comunicação eficaz e resolução de conflitos, também será um diferencial importante, pois essas são áreas onde as máquinas ainda têm muito a aprender com os humanos.
Por outro lado, as organizações também desempenham um papel importante nesse processo. Para garantir uma transição tranquila e justa, é fundamental que as organizações invistam em treinamento e requalificação de sua força de trabalho. A implementação de tecnologias de automação pode gerar um aumento na produtividade, mas sem o desenvolvimento das habilidades certas por parte dos colaboradores, a empresa corre o risco de perder o potencial humano que tanto contribui para o sucesso organizacional. É uma via de mão dupla: a tecnologia avança, mas as pessoas precisam ser preparadas para acompanhar esse progresso.
A automação também deve ser vista como uma aliada na busca por um mercado de trabalho mais inclusivo. Com o avanço das tecnologias, muitas pessoas que antes estavam restritas a funções específicas devido a limitações físicas ou de conhecimento agora podem acessar novas oportunidades de emprego.
A revolução da automação e o trabalho remoto
Por exemplo, as plataformas digitais e ferramentas de automação oferecem possibilidades de trabalho remoto e flexível, permitindo que profissionais de diversas partes do mundo colaborem sem barreiras físicas. Além disso, a automação pode ajudar a diminuir a sobrecarga de trabalho de muitas profissões, especialmente na área da saúde, onde médicos e enfermeiros podem contar com tecnologias para otimizar seu tempo e focar mais no atendimento aos pacientes.
No entanto, é importante destacar que nem todos os países e regiões estão igualmente preparados para essa revolução. Enquanto algumas economias estão se adaptando rapidamente à automação, outras ainda enfrentam desafios significativos, como a falta de acesso à educação de qualidade, a infraestrutura precária ou a resistência à mudança.
Nesse sentido, o papel dos governos e das organizações internacionais é fundamental, pois devem criar políticas públicas que incentivem a inovação tecnológica e garantam que os benefícios da automação sejam compartilhados de forma equitativa entre todos os cidadãos.
O impacto da automação no mercado de trabalho é inevitável, mas pode ser positivo. A chave será a adaptação – tanto dos trabalhadores quanto das empresas – para aproveitar as oportunidades. O futuro do trabalho não é a substituição de pessoas por máquinas, mas pessoas e máquinas trabalhando juntas para alcançar resultados mais eficazes e inovadores.
Por Jefferson Denti, Chief Disruption Officer e líder de Dados e Inteligência Artificial e
Roberta Yoshida, sócia de Consultoria Empresarial e líder da prática de Capital Humano, ambos da Deloitte.
🎧 Inteligência Artificial (IA): Deve Mesmo Preocupar-nos?
No episódio 158 do RH Pra Você Cast, intitulado “IA: a preocupação deve mesmo existir?”, discutimos um tema que tem gerado debates acalorados: o desenvolvimento da IA no mercado de trabalho. Em março de 2023, veio a público a informação de que cerca de 2.600 líderes e pesquisadores do setor de tecnologia assinaram uma carta aberta solicitando uma pausa temporária nesse desenvolvimento. O argumento central é que as IAs podem representar um “risco para a sociedade e a humanidade”. Surpreendentemente, até Elon Musk, um dos maiores entusiastas da tecnologia, também assinou o documento.
Visões Contrastantes: Otimismo vs. Preocupação
Jhonata Emerick, CEO da Datarisk, diverge desse movimento de cautela em relação às IAs. Para o doutor em Inteligência Artificial, a evolução dessas tecnologias é tão natural quanto o crescimento que elas podem impulsionar. Acima de tudo, ele argumenta que, ao longo da história, a humanidade sempre enfrentou mudanças disruptivas, e a IA não é exceção. A questão, portanto, é como nos adaptamos e aproveitamos essas transformações.
Legitimidade das Preocupações
Mas será que as preocupações em torno das IAs são legítimas? A perda de empregos é frequentemente apontada como um risco iminente. No entanto, também devemos considerar os benefícios potenciais: automação de tarefas repetitivas, diagnósticos médicos mais precisos, otimização de processos industriais e muito mais. Em suma, ainda há muito a aprender sobre o impacto real da IA no mercado de trabalho e em nossas vidas.
O Desconhecido e o Potencial Inexplorado
Por fim, o que as IAs podem fazer por nós que ainda não compreendemos totalmente? Talvez estejamos apenas arranhando a superfície de suas capacidades. Desse modo, à medida que avançamos, é crucial manter um olhar crítico e otimista, buscando equilibrar os riscos com as oportunidades.
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