Não basta apenas estar presente: nós, mulheres, queremos também exercer nossa liderança feminina para transformar o mundo corporativo.
"Todo dia ela faz tudo sempre igual". Chico Buarque cantou a canção Cotidiano, onde ele descreve uma mulher que se move no compasso da rotina, cuida da casa e espera o marido voltar do trabalho. Essa cena, tão comum em um passado não tão distante, ainda ecoa na memória coletiva, mas o mundo mudou.
Hoje, nós, mulheres, não nos limitamos mais a esperar. Somos protagonistas de nossas próprias histórias, rompemos as paredes do lar para ocupar espaços de decisão e transformação no mercado de trabalho. Mas estar presente não basta, precisamos ir além: queremos participar ativamente das decisões que transformam as empresas e as relações de trabalho como conhecemos.
Os desafios para a ascensão feminina na liderança
As barreiras para que as mulheres alcancem cargos de liderança ainda são muitas. A falta de representatividade nos altos escalões das empresas cria um ciclo vicioso que dificulta a ascensão feminina.
O problema atinge tal proporção que, em todo o mundo, mulheres ocupam apenas 29% dos cargos de alta liderança, como C-Level, segundo pesquisa da consultoria McKinsey & Company, de 2024. O levantamento também indica que a maior participação feminina no mercado de trabalho ainda se concentra em cargos de início de carreira (48%).
Não bastasse os entraves no mundo corporativo, muitas de nós ainda enfrentamos vieses inconscientes que questionam nossa capacidade de liderar, além da sobrecarga imposta pela dupla jornada de trabalho, conciliando carreira e vida pessoal. Dados divulgados pela 3ª edição do estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, enquanto as mulheres dedicam cerca de 21,3 horas semanais com trabalho doméstico não remunerado, os homens gastam apenas 11,7 horas.
Outro obstáculo significativo é a dificuldade de acesso a redes de contato estratégicas e oportunidades de mentorias que impulsionam o crescimento profissional. Além disso, a falta de políticas efetivas de inclusão impede que as mulheres tenham as mesmas chances de desenvolvimento e promoção dentro das corporações.
O que as empresas podem fazer além das políticas de diversidade
A diversidade só se traduz em transformação quando acompanhada de ações concretas. Para garantir que as mulheres tenham voz ativa e influência nas decisões estratégicas, as organizações precisam adotar medidas efetivas, como:
- Metas claras de inclusão: estabelecer objetivos de curto e longo prazo para aumentar a presença feminina na liderança.
- Programas de mentoria e patrocínio: conectar mulheres a líderes que possam orientá-las e abrir portas dentro das empresas.
- Flexibilização do trabalho: implementar políticas que permitam um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
- Transparência nos processos de promoção: criar critérios objetivos e claros para ascensão profissional, reduzindo vieses.
Transformando a cultura organizacional
A mudança estrutural só acontece quando a cultura corporativa é reformulada para valorizar e incentivar a presença feminina em posições estratégicas. Isso passa pelo compromisso da alta liderança em promover um ambiente inclusivo e seguro, onde mulheres possam se expressar e serem ouvidas sem receio.
Além disso, a educação corporativa deve incluir treinamentos sobre vieses inconscientes, equidade de gênero e liderança inclusiva. A promoção de um ambiente de trabalho que valorize a diversidade impacta diretamente a produtividade, a criatividade e os resultados do negócio.
Habilidades essenciais e o papel das empresas
Para se destacarem na liderança, muitas pessoas cobram que as mulheres demonstrem habilidades como inteligência emocional, comunicação assertiva, gestão de crise e pensamento estratégico. No entanto, as organizações devem garantir que elas desenvolvam essas competências por meio de capacitação contínua e programas de liderança adaptados às realidades femininas.
Caminhos possíveis para um ambiente corporativo mais equitativo
Eu recomendo que as lideranças de Pessoas e Cultura criem um ambiente mais justo e inclusivo para as mulheres, dando espaço para que as vozes femininas sejam ouvidas. Fomentem ambientes de escuta ativa, promovam lideranças diversas e implementem ações concretas para garantir que a inclusão não seja apenas um discurso, mas uma realidade.
A verdadeira transformação do mundo corporativo só será possível quando as mulheres não apenas ocuparem espaços, mas tiverem real poder de decisão para construir um futuro mais igualitário, inovador e sustentável para todos.
Com um caminho longo já percorrido, e com ainda muito mais para conquistarmos, nós seguimos dedicadas às nossas carreiras. Agora, é a vez das empresas manterem o mesmo compromisso e darem continuidade ao progresso que nos levará a um mercado de trabalho mais justo, com equidade e valorização.
Por Paula Lisboa, gerente de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.
🎧 Podcast RH Pra Você Cast: A Evolução da Relação das Mulheres com o Mercado de Trabalho
No episódio 185 do Podcast RH Pra Você Cast, mergulhamos na fascinante evolução da relação das mulheres com o mercado de trabalho, a equidade e a liderança feminina. Afinal, esse é um tema crucial e repleto de nuances. Assim, explorararemos os dados, desafios e oportunidades que moldam essa trajetória.
Responsabilidades e Desafios
Segundo um estudo realizado pela Think Olga, 86% das mulheres enfrentam uma carga de responsabilidade considerável. Além disso, quase 60% delas têm a incumbência de cuidar de alguém. Em suma, essa realidade persiste mesmo em um mercado de trabalho que, embora tenha avançado, ainda carrega tabus e desafios para o público feminino.
A Jornada Dupla de Trabalho
Profissionais brasileiras frequentemente enfrentam a chamada “jornada dupla”: equilibrar as demandas do trabalho com as responsabilidades domésticas e familiares. Afinal, esse malabarismo é uma realidade que merece atenção e soluções práticas.
Especialistas em Inclusão Compartilham Insights
Com o propósito de discutir como o setor de Recursos Humanos pode contribuir para o bem-estar das mulheres no ambiente de trabalho e a liderança feminina, o “RH Pra Você Cast” convidou duas especialistas em inclusão:
- Jorgete Lemos: Sócia fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços, trazendo sua vasta experiência em análise de dados e tendências.
- Maíra Liguori: Diretora das organizações da Think Eva, com insights valiosos sobre as melhorias que podem ser promovidas para apoiar as profissionais.
Ouça o episódio completo e, dessa forma, descubra como podemos construir um ambiente de trabalho mais igualitário e portanto mais acolhedor para todas as mulheres, assim como para a liderança feminina! 🎧
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