A carência emocional nas empresas e a importância da mentoria
Nos últimos tempos, tenho me deparado com algo que, embora não seja novidade, parece ganhar cada vez mais relevância dentro das empresas: a carência emocional das pessoas, seja entre os líderes ou os colaboradores.
Parece um fenômeno crescente. Por trás das funções e tarefas do dia a dia, as pessoas mostram uma necessidade cada vez maior de um espaço para se expressar, se conectar e, acima de tudo, não se sentirem sozinhas.
Permitam-me compartilhar algumas experiências que ilustram bem esse ponto.
Recentemente, fui encarregada de dar uma devolutiva de Assessment para 27 profissionais que haviam preenchido um questionário simples, o famoso " DISC". Embora o processo fosse objetivo, o tempo disponível para a devolutiva era extremamente restrito: 30 minutos para cada um.
Esse tempo, muitas vezes, se mostrou insuficiente para apenas analisar os resultados. Percebi que, mais do que discutir o teste em si, esses profissionais tinham uma necessidade maior de conversar sobre questões pessoais. Além disso, essas questões reverberavam em seu comportamento, mas não se limitavam a isso.
A solidão emocional no ambiente corporativo
Estudos mostram que o impacto das questões pessoais no desempenho profissional é significativo. Segundo um estudo realizado pela consultoria Gallup, cerca de 70% dos trabalhadores se sentem sobrecarregados e ansiosos, o que pode ser reflexo direto de dificuldades pessoais não resolvidas.
Quando esses desafios emocionais não são tratados, eles afetam o comportamento e o desempenho dos indivíduos no ambiente corporativo. Consequentemente, isso ficou evidente nas devolutivas que realizei.
É curioso, porque, ao falar com essas pessoas, notei que, apesar de ser a primeira vez que elas me viam, havia um desejo imenso de compartilhar algo mais profundo. Algumas questões não eram só sobre o trabalho em si, mas sim sobre a vida, sobre como as situações pessoais afetavam o desempenho no ambiente corporativo. Isso foi um reflexo claro de como as necessidades emocionais, muitas vezes, ficam ocultas atrás das agendas lotadas de reuniões e tarefas.
E, claro, esse tipo de necessidade não se limita ao chão de fábrica ou ao atendimento ao cliente. No mês passado, durante uma mentoria com dois diretores, percebi algo semelhante. Eles expressaram um sentimento de isolamento, uma dificuldade em falar abertamente sobre questões pessoais com seus superiores.
Estavam sobrecarregados, lidando com questões internas e externas de grande peso, e não se sentiam confortáveis em discutir tudo isso com suas equipes ou até mesmo com seus pares.
De acordo com um estudo da Opinion Box, 55% dos líderes sentem que recebem menos apoio do que deveriam para lidar com suas questões emocionais. Por conseguinte, isso se tornou um dos principais fatores que contribuem para a sobrecarga de trabalho e o estresse.
Carências emocionais e a solidão no ambiente corporativo
Esses dados revelam um ponto crucial: os líderes, muitas vezes, também enfrentam suas próprias carências emocionais. No entanto, eles não encontram espaço para compartilhá-las, nem mesmo com suas lideranças.
Esse fenômeno não é restrito a uma faixa etária ou a um cargo específico. O que antes parecia mais evidente entre os mais jovens, agora está presente em todos os níveis dentro das organizações.
A sobrecarga de responsabilidades e as demandas emocionais, tanto externas quanto internas, exercem grande pressão. Como resultado, mesmo cercados de pessoas, a solidão emocional se torna uma constante.
Carência emocional e o papel da mentoria nas empresas
As pessoas precisam se sentir ouvidas, reconhecidas e apoiadas. Não é apenas sobre melhorar o comportamento ou a produtividade, mas sobre criar uma rede de apoio que promova o bem-estar e a saúde mental. A consciência de que cada um de nós, de alguma forma, impacta o outro é crucial para criarmos ambientes mais saudáveis e produtivos.
Esse cenário nos leva a pensar sobre a importância de abordagens individualizadas, como a mentoria. Oferecer um espaço seguro é essencial para o desenvolvimento humano dentro da organização. Nesse ambiente, o profissional pode discutir tanto seus desafios de trabalho quanto suas questões pessoais.
Segundo uma pesquisa da Harvard Business Review, 68% das empresas afirmam que o desenvolvimento de líderes internos é uma prioridade para o crescimento sustentável dos negócios. Além disso, dados do Instituto Brasileiro de Coaching demonstram que equipes lideradas por líderes capacitados têm um desempenho até 25% mais alto do que equipes sem liderança eficaz.
A mentoria oferece algo que é mais do que orientação profissional: ela proporciona uma escuta ativa, uma troca genuína, um alicerce emocional para que as pessoas não se sintam isoladas.
Em muitos casos, os líderes também precisam de mentores. Eles são os primeiros a carregar a responsabilidade de cuidar de suas equipes, mas quem cuida deles? Como eles lidam com a pressão de ser um modelo, de ter que estar sempre "fortes"?
Muitas vezes, esses líderes não têm a quem recorrer, e isso pode afetar diretamente sua capacidade de gerenciar e inspirar suas equipes. Quando um líder se sente sobrecarregado e isolado, o reflexo disso será sentido por toda a organização.
O valor da escuta e do apoio emocional nas empresas
Portanto, o que fica claro a partir dessas experiências é que a falta de um espaço de escuta genuína, a carência de uma rede de apoio emocional, tem se tornado uma das grandes questões nas empresas.
O simples fato de alguém se sentir confortável para compartilhar suas dificuldades pessoais, em um ambiente seguro e sem julgamento, pode fazer toda a diferença em seu desempenho profissional e bem-estar psicológico.
Talvez seja hora de repensarmos a forma como lidamos com o apoio emocional nas organizações, e pensarmos em novas formas de oferecer mentoria e espaços de escuta. Afinal, ninguém deve carregar sozinho o peso da sua jornada profissional ou pessoal.
É essencial que criemos ambientes onde as pessoas possam ser vulneráveis, se sentir ouvidas e compreendidas, sem medo de que isso as torne mais fracas ou menos competentes. Porque, no fim das contas, a vulnerabilidade é, na verdade, uma grande força.
Por Valéria Oliveira, especialista em desenvolvimento e gestão da cultura.
🎧 No episódio 168 do RHPraVocê Cast, mergulhamos na discussão sobre a presença dos sentimentos emocionais no ambiente corporativo. Por que esse tema é tão espinhoso? E como as emoções afetam o engajamento, a produtividade e as finanças das empresas?
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Falar sobre os sentimentos emocionais no escritório é como navegar por um território delicado. Afinal, a felicidade, a tristeza e outras emoções permeiam cada aspecto da jornada profissional. Mas como lidar com elas de forma construtiva?
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Entrevista com Especialistas
Neste episódio, convidamos duas especialistas da Coppead/UFRJ: Paula Chimenti, Professora e Coordenadora do Centro de Estudos em Estratégia e Inovação, e Fernanda Souza, doutoranda e pesquisadora. Assim elas compartilham insights valiosos sobre como abordar o tema dos sentimentos emocionais nas organizações.
Confira o episódio completo. Em suma, descubra como a gestão dos sentimentos emocionais pode ser um diferencial competitivo para as empresas!
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