Trabalho X riscos das bets: o lado obscuro

O vício em apostas online está silenciosamente invadindo o ambiente de trabalho. A facilidade de acesso a plataformas de apostas, aliada à intensa publicidade, tem transformado esse hábito em um problema crescente. Mas quais são as consequências para as empresas? Quais os riscos das bets?

A perda de produtividade, o aumento do absenteísmo e os problemas de relacionamento interpessoal são apenas alguns dos desafios enfrentados pelas organizações. Além disso, essas questões se agravam quando não são tratadas de forma adequada.

Neste artigo, vamos explorar os riscos das bets. Ademais, vamos discutir como o vício em apostas pode afetar o ambiente de trabalho e o que as empresas podem fazer para proteger seus colaboradores e seus negócios.

A invasão das bets na vida das empresas

Abrimos nosso celular e vemos propagandas de bets.

Recebemos uma enxurrada de convites para jogos diariamente via e-mail, WhatsApp.

Na televisão aberta: bets.

E no momento de lazer, vendo futebol: bets tanto como patrocinadores de times como adornando o estádio.

A presença de bets no Brasil – agora de forma regular – faz com que cresça também o número de pessoas que estão viciadas em apostas. Consequentemente, isso afeta de forma direta e/ou indireta o ambiente corporativo.

Inicialmente apontamos que há dois tipos de plataformas de bets . Uma é o dos jogos, como o Aviator (conhecido como “aviãozinho”), o Balloon (“balãozinho”) ou o Fortune Tiger (“o tigrinho”), o mais famoso deles.

Todas são adaptações digitais de videogames ou de caça-níqueis de cassinos. No entanto, simulam que ganhar ou perder depende da habilidade do jogador, quando, na verdade, depende apenas do fator 'sorte'.

Outro tipo de bet é aquele relacionado com o futebol, as chamadas “apostas esportivas” que são aquelas que estão de alguma forma relacionadas com jogos de futebol.

Mas o que as bets tem a ver com o universo do trabalho?

Tudo.

Bets = Risco trabalhista

Inicialmente destacamos o fato de que o empregado que utiliza este tipo de distração pode aproveitar e utilizar o horário de trabalho para este entretenimento.

A distração aliada à falta de atenção pode gerar erros e acidentes de trabalho. Além disso, isso pode possibilitar a empresa a aplicar penalidades como advertência, suspensão e até dispensa por justa causa (dependendo é claro da situação em concreto).

Lembremos que existe um dispositivo na CLT (art. 483, “i”) que indica que constitui justa causa para a rescisão do contrato de trabalho “práticas constantes de jogos de azar”.

Referido artigo, no entanto, deve ser utilizado com parcimônia sendo importante que quando o empregador identifique a situação, conscientize-o do problema e deixe clara a possibilidade deste tipo de desligamento.

O uso do computador do trabalho para o acesso a um site de apostas já gerou demissões por justa causa pelo Brasil afora. Destacamos um caso de São Paulo no qual a 6ª Vara do Trabalho manteve a demissão por justo motivo de um colaborador. Pelas evidências trazidas pela empresa, ele realizava este tipo de conexão no horário de trabalho e sem o conhecimento da empresa.

Fiscalização e riscos do vício em jogos de azar

Importante destacar que a fiscalização da empresa em equipamentos fornecidos por ela é permitida eis que são ferramentas que devem ser utilizadas especificamente para o trabalho. O ideal é que este tipo de fiscalização seja de conhecimento do colaborador que deve assinar um termo de ciência ao receber o equipamento.

Além disso, a questão do vício e o gasto excessivo podem levar a um endividamento com a empresa ou até com agiotas, fazendo com que a saúde emocional e financeira do empregado fique comprometidas afetando, consequentemente, o trabalho.

Vale lembrar ainda que desde 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o vício em jogos de azar (também chamado de 'ludopatia') como uma doença. Adicionalmente, a popularização desse tipo de aposta no Brasil, aliada a um cenário de pouca regulamentação governamental e escassa educação financeira, tem adoecido muitos colaboradores.

No Brasil, o vício em jogos de azar afeta cerca de 2 milhões de pessoas. A ludopatia tem se tornado mais comum entre os jovens, devido às apostas online.

O que o RH e as empresas podem fazer?

Algumas dicas úteis:

- Colocar no Código de Ética e nas políticas da empresa expressamente a possibilidade de aplicação de penalidade no caso de uso indevido dos equipamentos destinados ao trabalho e do tempo destinado ao trabalho;

- Estabelecer constantes programas de apoio, como palestras sobre apostas e uso saudável do dinheiro;

- Sugerir o encaminhamento do colaborador que possivelmente esteja viciado (ou que visivelmente possui problemas financeiros) a um especialista em educação financeira;

- Se o cenário se tornar mais grave, porém, é importante que o RH trate a questão como um problema de saúde do colaborador, levando-o a se afastar para buscar tratamento – da mesma forma como acontece com outros tipos de adições.

Impacto das apostas no ambiente de trabalho e saúde mental

Hoje, o Hospital das Clínicas em São Paulo, por exemplo, mantém um programa ambulatorial voltado a viciados em jogos de azar, que serve de exemplo para outras regiões do país.

Um estudo recente da consultoria Mercer, o Global Talent Trends 2024, mostra que, em média, seis horas mensais de cada colaborador são gastas com preocupações financeiras. Como resultado, esse impacto é difícil de ser precificado pelas organizações, afinal afeta o trabalho, o trabalhador e a vida pessoal do colaborador.

A promessa de enriquecimento rápido, inerente às apostas, pode ser uma distração significativa para os colaboradores, especialmente os mais jovens afinal segundo o Instituo Locomotiva a maioria dos apostadores de bets são homens jovens.

A pressão financeira e o estresse associados ao vício em jogos de azar podem levar a uma série de problemas no ambiente de trabalho, como queda na produtividade, dificuldades de concentração e até mesmo problemas de relacionamento.

É crucial que as empresas estejam atentas a esses sinais e ofereçam suporte aos colaboradores que estejam passando por essa situação. A prevenção e o cuidado com a saúde mental dos funcionários são essenciais para garantir um ambiente de trabalho saudável e produtivo.

Riscos das Bets_foto da autora

Por Gisela Belluzzo de A Salles, Fundadora e Idealizadora da empresa SPECTARE - cultivando ambientes saudáveis | Compliance Trabalhista | Palestrante | Advogado Trabalhista Empresarial |Combate à Discriminação, Assédio Moral e Sexual nas empresas.

 

 


🎧 Ouça o Podcast RH Pra Você Cast, Episódio 171

"Não é Só uma Demissão: O Peso do Desemprego na Autoestima e na Saúde Mental"

Perder o emprego não é fácil para ninguém. Para algumas pessoas, o impacto emocional pode ser bem maior do que para outras. Seja pelas necessidades financeiras ou por questão de autoestima, um desligamento pode causar efeitos extremamente negativos à saúde mental. Além disso, esses efeitos podem ser gatilhos para transtornos ou doenças, como ansiedade, ataques de pânico e depressão.

Como as Organizações Podem Ajudar?

Diante desse cenário, é possível que as organizações contribuam de algum modo para que o impacto seja menos sentido? Afinal, o que fazer para que uma demissão não afete tão drasticamente o nosso emocional? Quem fala sobre isso é a psicóloga especialista em Gente & Gestão, Cláudia Danienne, CHRO da Degoothi Consulting. Confira:

Conclusão

Ouça o podcast e descubra estratégias para lidar com a demissão e seus efeitos na saúde mental. Além disso, entenda o papel das organizações nesse processo crucial.

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