Sempre gostei de estudar e identificar padrões e fazer analogias que me ajudassem a liderar iniciativas de inovação, entendendo como navegar em ambientes novos e desconhecidos.

Essas iniciativas, muitas vezes relacionadas ao intraempreendedorismo, carregam um alto nível de complexidade e incerteza. Diante do novo, é natural que as pessoas apresentem diferentes reações, comportamentos e atitudes.

Com mais de 20 anos liderando iniciativas de intraempreendedorismo, percebi essas reações mais comuns e comecei a classificá-las em quatro grandes tipos de comportamento. No início, eu era pego desprevenido e não sabia lidar com as diferentes respostas que surgiam. Com o tempo, essa classificação me ajudou a entender melhor por que algumas iniciativas prosperam, enquanto outras enfrentam dificuldades.

Se no princípio eu era pego desprevenido e não sabia como lidar com diferentes reações, com o tempo, essa classificação me ajudou a aumentar tanto a percepção, como a consciência dos porquês, conversas, planos, projetos ou iniciativas acabam sendo bem ou mal-sucedidos.

Claro, como qualquer característica humana, esses grupos não são absolutos – pode haver variações e subdivisões. Cada pessoa é única, e classificar comportamentos é sempre um desafio.

Meu intuito foi o de entender as atitudes instintivas mais comuns diante de novas ideias. Isso ajuda a antecipar desafios, traçar estratégias e acolher diferentes pontos de vista.

Essa classificação não é matemática, pois leva em conta uma combinação imponderável da nossa capacidade lógica e instintiva, logo alguém poderá exercer qualquer uma das quatro personalidades em diferentes situações.

E é por isso que não podemos ou devemos atribuir um comportamento definitivo a uma pessoa, pois a situação proposta é que definirá sua atitude, com base no seu histórico pessoal.

Na tabela a seguir ilustro quais são esses quatro comportamentos e na sequência proponho uma definição sucinta de cada um:

  1. Resistentes: São os guardiões do passado. Valorizam a estabilidade e resistem a mudanças, especialmente aquelas que podem comprometer processos já consolidados. Representam as origens e a cultura histórica da organização. Avessos ao risco, têm receio de rupturas que possam desestabilizar o funcionamento da empresa. São conservadores por natureza.
  2. Exploradores: São inquietos com o status quo e estão sempre em busca de novas oportunidades e formas de fazer as coisas. Antenados nas tendências, adoram discutir novas possibilidades. Para eles, o passado serve apenas como referência, e assumir riscos é parte do processo de evolução. São abertos ao novo por natureza.
  3. No Muro: Esse é geralmente o maior grupo dentro de uma organização. Formado por aqueles que seguem processos e regras, mas permanecem atentos às movimentações internas. Podem mudar de posição conforme a liderança e as políticas da empresa evoluem. Muitas vezes, evitam tomar partido por falta de envolvimento ou receio de se comprometer. São observadores por natureza.
  4. Líderes: Embora a palavra "liderança" normalmente remeta à hierarquia, há pessoas que exercem influência independentemente do cargo, classe social, idade ou formação. São os líderes informais, capazes de mobilizar e inspirar os outros sem precisar recorrer ao poder formal. Também há os líderes formais que possuem essas características. Já aqueles que ocupam cargos de comando, mas não demonstram essas habilidades, acabam sendo classificados em um dos outros três grupos. Esse grupo é formado por mobilizadores por natureza.

Agora, convido você a refletir sobre suas reações instintivas diante de novas ideias e projetos. Você pode ter manifestado qualquer um desses quatro comportamentos em momentos diferentes.

Acredite, gravitamos por todos eles, o que não significa que não possamos ter uma característica mais comum ou preponderante.

Entender a dinâmica entre esses comportamentos e como motivar cada um deles será essencial para calibrar uma estratégia de intraempreendedorismo.

Vamos imaginar uma organização qualquer. Pode ser a sua, por exemplo. Nela, certamente, haverá um grupo, geralmente pequeno de exploradores. Inquietos, eles irão buscar e propor novas ideias, caminhos e soluções, o que irá gerar algum nível de desconforto, especialmente entre os resistentes.

Grupo esse que terá uma percepção de que os exploradores estão desperdiçando energia, afinal a organização chegou aonde chegou pela consistência de suas ações. Manter o status e um olhar de precaução é o caminho mais adequado para eles.

Esses dois grupos estarão, portanto, em permanente tensão e é por isso que usei a analogia do cabo de guerra na figura. Importante ressaltar que tensões não são necessariamente ruins. Elas são importantes termômetros de inovação, afinal não existe inovação sem tensão e alguma ruptura. O novo e diferente sempre vem combinado com o desconforto.

Note também que nenhum dos dois grupos ou comportamentos está errado. Você pode até ter mais simpatia com um ou outro comportamento, mas ambos são apenas pontos de vistas construídos por experiências prévias ou crenças diferentes.

De acordo com o porte da iniciativa proposta haverá um grau de desconforto que afetará a organização de alguma forma. Assim, mais cedo ou mais tarde, esse tema será levado às lideranças formais como um desafio ou impasse a ser resolvido.

Enquanto essa dinâmica se desenrola, a turma que está “no muro” permanecerá observando e comentando o que está acontecendo. Com baixo poder de influência, esse grupo estará atento a como as lideranças se posicionam, para então tomar algum partido ou iniciativa.

As lideranças informais, por sua vez, terão papel importante de aumentar ou reduzir essas tensões aliando-se ao grupo de exploradores ou resistentes ou dividindo-se entre os dois. Esse grupo servirá como “fiel da balança” e terá papel importante nesse tabuleiro, já que tem poder mobilizador e catalizador.

Mas, então como agir para ter sucesso apoiando-se nas atitudes desses quatro comportamentos?

Aparentemente uma nova ideia ou iniciativa precisa apenas de um grupo forte de exploradores, certo? Errado! Os 4 grupos têm um papel importante, acredite. Os resistentes, por exemplo, serão aqueles a questionar e fazer algumas perguntas e considerações importantes, que trarão consistência e maturidade à iniciativa.

A tensão gerada será inevitável e é aqui onde as lideranças formais precisarão intervir e mediar conversas, assegurando que novas iniciativas consigam ser desenvolvidas.

Caberá ao intraempreendedor mapear e antecipar essas tensões, buscando o apoio necessário das lideranças, fortalecendo sua liderança e poder de influência, bem como o desenvolvimento da iniciativa. Ter o grupo de lideranças informais bem mapeado e comunicado é importante, afinal ele funciona como instrumento de apoio e validação.

O grupo “no muro” tem papel secundário no início, mas após superadas as tensões, será importante para dar volume, consistência e peso à iniciativa. À medida que esse grupo nota que as lideranças formais passam a apoiar determinadas iniciativas e existe uma dinâmica de colaboração entre os demais grupos ele começa a unir-se e apoiar.

Como disse no início desse artigo isso não é uma ciência exata. Lidar com pessoas foi, é e será sempre um grande desafio. Entender suas motivações, portanto será essencial nessa jornada.

Cada organização tem sua cultura e conjunto de valores, que advém das pessoas que a compõe.  Muito se fala em novos processos e tecnologias, mas seremos nós, as pessoas, que ditaremos o porquê, o que e como fazer as coisas.

Alexandre Waclawovsky, o Wacla, liderou marketing, vendas e inovação no Brasil e América Latina. Atualmente, é CRO no Fretadão. Reconhecido por sua contribuição ao empreendedorismo e transformação de negócios. Mentor de startups e consultor associado na HSM. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.