Se considerarmos a publicidade alarmista nas redes sociais sobre o início da vigência da NR1 revisada do Ministério do Trabalho e Emprego, temos a sensação de que, no dia 25 de maio, um exército de fiscais irá invadir as empresas, penalizando todo mundo. A Norma Regulamentadora nº 1  estabelece as disposições gerais sobre segurança e saúde no trabalho no Brasil. Ela passou a incluir o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), que exige que as empresas implementem um Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) para identificar, avaliar e controlar riscos no ambiente de trabalho. Isso inclui riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais.

A Organização Internacional do Trabalho reconhece os fatores psicossociais no trabalho como um dos principais desafios para a segurança e saúde ocupacional. A OIT destaca que esses fatores podem afetar a saúde mental, o bem-estar dos trabalhadores e até a produtividade das empresas.

Os fatores psicossociais são aspectos relacionados à organização do trabalho que podem impactar a saúde mental e emocional dos trabalhadores. Eles incluem: (a) carga de trabalho; (b) autonomia do trabalho; (c) relações interpessoais; (d) clima organizacional; (e) exigências emocionais.

Concluímos, então, que o primeiro passo não é procurar uma consultoria especializada, mas fazer a lição de casa. Ou seja, analisar como estes fatores são gerenciados internamente e o papel de cada ator (recursos humanos, medicina do trabalho, plano de saúde, liderança).

Segundo a OIT, os principais fatores psicossociais são:

  • Carga de trabalho excessiva ou insuficiente;
  • Pressão por produtividade e prazos curtos;
  • Falta de autonomia e controle sobre as tarefas;
  • Ambiente de trabalho tóxico e relações interpessoais difíceis;
  • Assédio moral e sexual;
  • Turnos longos e trabalho noturno;
  • Falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Destes fatores, depreende-se que muitos dependem de medidas gerenciais e da organização do trabalho.

Um bom guia é o livro seminal de Sergio Roberto de Lucca, “Fatores psicossociais e saúde mental no trabalho”, publicado pela editora Proteção. Nesta obra, são apresentados os principais instrumentos de diagnóstico e intervenção que são essenciais para um programa de saúde mental nas organizações.

Outro recurso importante é o guia para promoção de um ambiente de trabalho saudável da OIT, que está disponível no link.

O programa de saúde mental deve se iniciar com a criação de um grupo de trabalho ou comitê em que participam os diferentes setores da empresa (RH, SESMT, CIPA, plano de saúde), onde se determinam as metas desejadas e os indicadores a serem monitorados, analisa quais ações podem ser adotadas, de acordo com o orçamento disponível e buscar integrar o programa à estratégia da organização.

A implementação de um programa de saúde mental deve começar com a criação de um comitê ou grupo de trabalho que envolva diferentes setores da empresa, como RH, SESMT, CIPA e plano de saúde. Esse grupo deve definir metas claras e indicadores de monitoramento; avaliar as ações possíveis conforme o orçamento disponível; integrar o programa à estratégia da empresa e garantir que o programa contemple:

  • Gerenciamento de riscos psicossociais;
  • Promoção de um ambiente de trabalho saudável (incluindo mudanças de estilo de vida, como atividade física, alimentação, gestão do estresse e sono adequado);
  • Capacitação dos gestores para uma liderança mais humanizada;
  • Integração com a saúde ocupacional.

Deste modo, conclui-se que um programa de saúde mental vai muito além de fazer palestras no janeiro branco. Ele deve ser estruturado com estratégias concretas e eficazes, promovendo uma cultura organizacional mais saudável e produtiva para todos.

Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.