As Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) são doenças que impactam diretamente a saúde dos trabalhadores brasileiros, sendo causadas por movimentos repetitivos, posturas inadequadas e esforços excessivos nas atividades laborais. Essas condições podem levar a dores crônicas, inflamações e, em casos mais graves, incapacidades temporárias ou permanentes

De acordo com o Ministério da Previdência Social, a síndrome do túnel do carpo, uma das formas mais comuns de LER/DORT, foi responsável pelo afastamento de 24.002 trabalhadores em 2023, representando um aumento de 33,15% em relação ao ano anterior. Esses números refletem a necessidade de ações preventivas mais eficazes nos ambientes de trabalho. Em 2024, o Brasil registrou mais de 4 mil afastamentos por LER/DORT, de acordo com o SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), destacando ainda mais a relevância do tema. 

O Dia Internacional de Combate às LER/DORT, celebrado em 28 de fevereiro, foi instituído pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) com o objetivo de promover a conscientização sobre essas doenças e a importância da prevenção, diagnóstico e tratamento adequado. Segundo Raquel Grieco, advogada no escritório Bosquê & Grieco Advogados, “A data reforça a necessidade urgente de políticas públicas eficazes e de práticas preventivas no ambiente de trabalho”, comenta.

As principais normas relacionadas à LER/DORT no Brasil incluem a consolidação das leis do trabalho (CLT), que exige a proteção da saúde do trabalhador e a prevenção de doenças ocupacionais, como as LER/DORT (Art. 189); a NR 17, que regula a ergonomia no ambiente de trabalho, estabelecendo diretrizes para a organização do trabalho e prevenção de lesões; a NR 9, que exige a avaliação e controle de riscos ambientais, incluindo os ergonômicos; a Lei 8.213/1991, que reconhece as LER/DORT como doenças ocupacionais para fins de benefícios previdenciários; e a Lei 6.514/1977, que altera a CLT e obriga o empregador a adotar medidas preventivas contra doenças relacionadas ao trabalho.

A advogada trabalhista também destaca a importância da conscientização tanto para empregadores quanto para empregados: "É fundamental que empregadores e empregados estejam cientes dos riscos associados às atividades laborais e adotem medidas preventivas. Pausas regulares, ergonomia adequada e programas de saúde ocupacional são essenciais para minimizar os impactos das LER/DORT”, ressalta a especialista. 

Em casos de trabalhadores temporários, a prevenção e o acompanhamento da saúde devem ser ainda mais rigorosos. "Os trabalhadores temporários têm os mesmos direitos de saúde e segurança no trabalho que os efetivos. Eles devem estar atentos à ergonomia dos postos de trabalho, pedir orientação sobre pausas e reportar qualquer desconforto físico ao empregador. Caso ocorram sintomas de LER/DORT, é importante que o trabalhador busque orientação médica imediatamente e registre a ocorrência junto ao empregador para garantir que seus direitos sejam respeitados”, complementa a advogada.

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Dores lombares: um dos dramas do home office

De acordo com um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% da população mundial sofre com problemas lombares. Grande parte desse percentual é composto por pessoas que trabalham no formato home office. Segundo estudo publicado pela International Journal of Environmental Research and Public Health, cerca de 41% desses trabalhadores sentem desconforto na coluna.

Para Helder Montenegro, fisioterapeuta e CEO do Grupo Velas, a grande incidência de dores lombares em pessoas que trabalham no modelo home office pode ser explicada por alguns costumes comuns às pessoas que se mantêm grande parte do tempo sentadas. 

“Na verdade, os incômodos lombares podem ter variadas causas, sendo o resultado conjunto de todas elas. Quem trabalha durante muito tempo sentado ou em uma só posição tem uma tendência maior de desenvolver esse problema, principalmente pela ausência de movimentação. Além disso, outras práticas voltadas ao estilo de vida da pessoa também podem influenciar bastante, como a falta de atividades físicas ou de outros tipos de exercício”, explica Helder. 

Visando orientar o público de trabalhadores que atuam no regime home office, o fisioterapeuta elencou cinco dicas que podem ajudar a reduzir dores lombares:

1 - Mude de posição ao longo do dia

“Ficar sentado da mesma forma por horas não é bom para sua coluna. Durante seu expediente, você pode variar: sente-se de maneiras diferentes, use uma mesa mais alta para trabalhar um pouco em pé e, se possível, alterne os ambientes onde trabalha. O importante é não deixar o corpo travado na mesma posição o dia inteiro.”

2 - Levante-se e se movimente sempre

“Pelo menos a cada 40 minutos, saia da cadeira. Caminhe um pouco dentro de casa, vá beber água, movimente os braços e pernas. Essas pausas evitam que sua lombar fique sobrecarregada e ajudam na circulação.”

3 - Evite o sedentarismo e inclua exercícios no seu dia

Não precisa virar atleta, mas mexer o corpo diariamente faz toda a diferença. Pode ser uma caminhada, pilates, yoga ou até alguns exercícios simples de fortalecimento. Quanto mais forte sua musculatura estiver, menor a chance da lombar sofrer.”

4 - Faça exercícios de mobilidade para a coluna

“Além de fortalecer, é importante manter a coluna móvel e solta. Exercícios de mobilidade ajudam a evitar travamentos e melhoram a flexibilidade. Movimentos como rotações de tronco e exercícios suaves são fáceis de fazer e ajudam muito.”

5 - Se as dores surgirem, não ignore

“Se sentir incômodo na lombar com frequência, isso é um sinal de que algo precisa mudar. Antes que vire um problema maior, preste atenção no seu corpo e faça ajustes na sua rotina. Se necessário, procure um fisioterapeuta especialista em coluna vertebral para entender a causa e resolver o problema antes que ele aumente.”

As LER/DORT representam um desafio significativo para a saúde do trabalhador brasileiro, afetando uma parcela crescente da população. Por isso, a conscientização, aliada a práticas preventivas e políticas públicas eficientes, é essencial para reduzir a incidência dessas condições e promover ambientes de trabalho mais saudáveis. A prevenção deve ser uma prioridade, visando a proteção da saúde, além da garantia dos direitos dos trabalhadores.