Esta semana é marcada pelo Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo (2 de abril), uma data criada para abrir diálogos e trazer mais informação sobre o tema. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) aparece na infância e pode estar associado também a outras condições como o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), epilepsia, depressão e ansiedade, sendo a vida adulta bastante desafiadora para pessoas que convivem com o transtorno, especialmente no contexto profissional.
No Brasil, o TEA é reconhecido como uma deficiência pela Lei nº 12.764/2012, que assegura os direitos das pessoas autistas no que diz respeito ao acesso à saúde, assistência social e educação. Além disso, a legislação prevê também a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho, com vagas destinadas especificamente às Pessoas com Deficiência (PcD).
Segundo Flávia Mentone, CEO e sócio-fundadora da Reponto, empresa especializada na jornada de atração e retenção de Pessoas com Deficiência, o recrutamento de pessoas autistas exige um olhar mais cuidadoso, com foco na inclusão e na valorização das habilidades reais do profissional. Por isso, a especialista explica que algumas boas práticas podem ser adotadas pelos RHs e recrutadores, a fim de tornar o processo seletivo mais eficiente e respeitoso:
1 - Descrição clara da vaga anunciada
- Evite termos genéricos como “boa comunicação” ou “proatividade”;
- Verifique se as descrições realmente refletem as tarefas do cargo;
- Especifique as atividades, o local de trabalho, a rotina e os requisitos técnicos.
2 - Capacitação da equipe recrutadora
- Os profissionais devem estar preparados para lidar com diferentes perfis de neurodiversidade;
- É importante entender que algumas formas de comunicação ou comportamento são diferentes, mas não menos válidas.
3 - Etapas adaptadas
- Evite dinâmicas de grupo ou entrevistas com muitas pessoas. Isso pode gerar desconforto e afetar o desempenho dos candidatos neurodivergentes, por causa da dificuldade de interação social;
4 - Entrevistas
- Evite perguntas hipotéticas ou abstratas, como: "O que você faria se...?", “Como você lidaria com...?” ou ainda “Como lidou com algo no passado?”;
- Prefira perguntas práticas, como: “Você pode me mostrar como usa este software?”;
- Converse com o profissional para entender suas necessidades específicas e coloque essas necessidades, de adaptação no ambiente e/ou interações sociais, no parecer da entrevista;
- Dê instruções verbais e também por escrito garantindo que a pessoa possa consultar qualquer material posteriormente, caso seja necessário;
- Deixe claro todas as etapas do processo seletivo e os prazos. A previsibilidade ajuda a reduzir a ansiedade e melhora o engajamento no processo.
5 - Ambiente acolhedor
- Ofereça materiais e formações sobre neurodiversidade para as equipes que vão receber esse profissional;
Flávia explica que a diversidade no ambiente de trabalho só se torna realmente efetiva quando há uma preparação adequada para receber e, de fato, integrar pessoas autistas às equipes.
“Além das adaptações no ambiente, o aspecto humano é essencial e por isso as empresas precisam investir na formação e letramento de gestores e pessoas que exercem um papel de liderança dentro das organizações. A partir disso é possível desenvolver um ambiente empático e de escuta ativa que verdadeiramente será inclusivo para as pessoas com TEA”, finaliza a CEO da Reponto.